Chá De Letras #23

O Corvo *Trilíngue* - Edgar Allan Poe + Tradução de Machado de Assis, Fernando Pessoa e Charles Baudelaire!

Oinnn, coalas! Como cês tão?

Hoje trouxe um livro incrível que recebi - eles me deram na Festa do Livro da USP - da Editora parceira Empíreo <3 A Edição Trilíngue Ilustrada muuuito especial, escrita originalmente pelo magnífico Allan Poe! E a obra conta com participações épicas, sendo elas, traduções de: Machado de Assis, Fernando Pessoa e Charles Baudrilard :D (sim gente, sim)
Bem, como temos escritas diferentes sobre uma mesma história, irei separar em partes, para que eu possa analisar cada autor mais afundo e suas visões diante um mesmo poema; seguido também de uma análise a filosofia da composição da obra. Segue:

Primeiramente, irei contar um pouco sobre quem foi Edgar Allan Poe caso já não conheçam né rs Poe, conhecido como Pai do Terror - pois iniciou a escrita de histórias macabras - foi um escritor, crítico literário, poeta, além de fazer parte do movimento romântico americano. Conhecido por dar vida ao tão famoso gênero de ficção científica e policial, também por escrever contos, e em sua maioria com teor gótico. Nascido em Boston no ano de 1809, tinha uma vida financeira difícil, porém sua perseverança fez com que ele ficasse conhecido por escrever, o que era raro na época; veio a falecer em 1849 (bem novo), e até hoje os motivos são discutidos.

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ORIGINAL - Edgar Allan Poe

-"The Raven" (1845) : Poe, já numa época avançada de sua vida (visto que faleceu apenas 4 anos depois), escreveu esta obra um tanto simbólica e talvez melancólica devido à geração literária que ele se encontrava. São aspectos de amor e dor, vistos no protagonista que uma vez sentiu o amor e agora era assombrado por um corvo, por possuir as memórias de sua amada levada pela morte. 
Tem uma musicalidade e métrica aparentes, que tornam todo este contexto e experiência diferentes; visto que além de nos fazer enxergar o que se passava na mente do protagonista, cria toda uma atmosfera relevante à história contada. É notório observar o uso de simbologia para dizer o quanto o protagonista estava sofrendo; como o lugar onde o corvo ficava, sendo sobre o busto de Pallas (ou Atenas); característica marcante dessa fase Ultrarromântica, mesmo que o gênero fosse voltado ao terror.
Com toda essa nova identidade linguística criada, Poe causava certo questionamento ao público, além de usos já ditos, pois abusava nas aliterações e possuía um ar de mistério envolvente o que era alvo de críticas (questionáveis, não sendo ruins).


TRADUÇÃO - Machado de Assis

 -"O Corvo" (1883): Machado foi o primeiro brasileiro a fazer a tradução da obra, e provavelmente traduziu a partir de um texto em francês, que seria o de Baudelaire. É notória sua narrativa marcante, cheia de detalhes que nos entrega o cenário de forma limpa e clara; sendo detalhes explícitos e comparações as vezes exageradas.
Nota-se que há certo distanciamento da obra original de Poe, visto que os padrões em quem se espelhou foi na versão francesa de Baudelaire. Logo, é possível perceber também uma nítida diferença no ritmo e rimas; porém ao meu ver trouxe uma identidade nova a obra não sendo num todo ruim, apenas como se fosse uma representação autêntica da mesma.


TRADUÇÃO - Fernando Pessoa

-"O Corvo"(1924): Já Pessoa, utiliza de uma técnica (talvez apenas estilo ou inspiração pare esta obra específica), que visa preservar a musicalidade original do poema, tentando palavras com a sonoridade, tom ou combinações parecidas com a obra de Poe.
Temos então um texto mais próximo da obra original, mantendo os esquemas utilizados para rima e ritmo, além de preservar o padrão proposto, inclusive o não mencionar do nome "Leonora". Digo que é muito bom de se ler, e é incrível o trabalho feito, com precisão para se identificar ao poema original de Poe; escrita muito inteligente e fiel, torna a leitura interessante e com um gostinho real do pai do horror ora narrativa gótica melancólica.


TRADUÇÃO - Charles Baudelaire


-"Le Corbeau"(1853): Baudelaire foi o primeiro escritor que traduziu o poema, seguido por Mallarmé. Não poderei opinar com firmeza sobre ela, à respeito de sua escrita, visto que não costumo ler em francês rs Porém, pude perceber que ele tem uma linguagem diferente, transcrevendo o texto em prosa, uma vez que não achasse possível ter a mesma metrificação e sonoridade do poema ao ser contado em francês.
*Pela linguagem de Machado, podemos ter noção mais ou menos de como está a obra em francês*
 

FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO - Edgar Allan Poe (Traduzido por Fábio Tadaieski)

- Com toda a certeza há muito material compartilhado, cada parágrafo é analisado de sua maneira, além de contar inspirações e acontecimentos históricos, além de citar nomes também; que tenham algum vínculo com a obra. Mas estarei deixando aqui os pontos chave que encontrei, e presumi que fossem atribuídos sem tirar o prazer da experiência ao ler.
Edgar nos conta sobre o propósito do poeta para com o leitor, qual busca adivinhar ora espiar de canto o sentido embutido, ou relance de ideias, imaginação, sutileza nas palavras que trazem uma certa intuição. Onde por vezes, em poucas palavras se mostra todo o sentir do poeta que pode ser interpretado de forma errada ou nem sequer ser interpretado.
Também retrata o belo como sendo uma elevação da alma, não do intelecto ou coração; e o compara como sendo a beleza, o domínio num poema escrito (visto que é onde sua alma se eleva - expressão do eu verdadeiro).
Algo muito interessante que ele deixa claro também e eu concordo (afinal sempre achei isso rs), é que "A melancolia é, assim, o mais legítimo de todos os tons poéticos". Também sobre os efeitos artísticos usuais na obra, claro, reforçando assim o refrão primeiramente; que que define tal como não se limitando ao verso lírico, mas sim dando diferença ao impressionar da força monótona, tando no som quanto em sua singularidade e ideia. É possível notar também que após cada estrofe determinada, a obra tem esse refrão, que seria repetição de palavras (dando-se como corolário - nome do meu conto <3).
Vemos também então, que essa fuga da monotonia, ou entrada à tal, se da ao exercício da razão, uma vez que repete palavras. Dai pra frente, se é analisada cada estrofe ou frase separadamente, levando a conclusão que é uma obra emblemática e profunda, onde há críticas e debates internos intensos, além de um tom tenebroso.

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Fiquei extremamente encantada pela obra. De verdade. Poder ler algo do incrível Allan Poe, que trouxe essa forma poética tão excêntrica e se tornou de todo excêntrico. E além de conhecer sua obra de perto, pude também acompanhar três pontos de vista escritos distintos, de épocas, línguas e estilos diferentes. Um experiência fantástica, acompanhada de magníficas ilustrações de Lupe Vasconcelos! Recomendo demais!!!
Agradeço novamente à Editora parceira pelo envio do livro e parabenizo pela Edição maravilhosa! <3

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Frases:

"Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore - What thus grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominious bird of yore
     Meant in croaking "Nevermore" - 
Edgar Allan Poe


"A alma, o sentido, o pávido segredo
   Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
     Grasnando a frase: "Nunca mais" -
Machado de Assis


"Que qu'ria esta eva agoureia dos maus tempos ancestrais,
 Esta ave negra e agoureia dos maus tempos ancestrais,
     Com aquele "Nunca mais" -
Fernando Pessoa


"(...) cherchant ce que cet augural oiseau des anciens jours, ce que se triste, disgracieux sinistre, maigre et augural oiseau des anciens jours voulait faire entendre en croassant son - Jamais plus!" -
Charles Baudelaire

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Foto do Instagram: @safisaga


Espero que gostem! Não esqueçam de conferir a obra na Editora Empíreo   
Bjs: #SafiSaga




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