Especial Literário!

Esquenta Primavera São Paulo 2019 - Primavera Literária + Entrevista Especial

Oinnn, coalas! Como cês tão?
Fico muito feliz por poder escrever sobre este evento tão bonito! Muito bem organizado, com diversas oficinas e presenças especiais.

Não poderei falar do evento num tudo, pois participei de 1 horário da programação, do primeiro dia apenas (sendo que foram 3 dias com vários horários/atrações). 
Às 11:30h do dia 07/09, na sala oval da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, aconteceu o Bate Papo "Sua história Além das Páginas", com a presença da editora Mariana Rolier, o escritor/diretor/compositor Toni Brandão e o autor/cineasta Marcos DeBrito (qual respondeu uma entrevista muito bacana para o blog e estará disponível ao final da matéria!), com mediação de Camila Cabete.
A frase que mais me tocou de todo o evento, foi: "Trabalhar com escrita, te proporciona outros mercados (ex: livro, cinema, teatro, publicidade)"; então sintetizando, num todo ouvimos muito da experiência de todos os convidados e quão valor é dado a escrita em diversas áreas. Não se resumi a livros apenas, é necessário em diversas áreas.
E além de poder absorver tantas informações e curiosidades bacanas, também tinham estantes de diversas editoras presentes na entrada da Biblioteca, uma vibe muito bonita e acolhedora <3 (sem contar os marcadores e adesivos fofos que estavam dando :3)

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Alguns comentários e perfis dos convidados:

*Mariana Rolier: Já trabalhou na editora Rocco, Planeta, e é representante brasileira na area atuante.

*Toni Brandão: Trabalhou no Folha de São Paulo por 7 anos, escreve durante 30 anos, já trabalhou e produziu teatros, fez uma participação na produção de "O Sítio do Pica-Pau Amarelo" na rede Globo, tem histórico como roteirista de cinema, de videogame também (clássicos da literatura). Atuou na área de áudiobook ao lado de Rita Lee, Vania Bastos, e criou o musical/livro 'Garoto Apaixonado', qual está fazendo muito sucesso.

*Marcos DeBrito: Já trabalhou como autor da editora Rocco, mas atualmente está na Faro. É cineasta como profissão, escreve roteiros e depois encontrou a voz literária. Não irei me prolongar muito visto que a entrevista vem a seguir!
















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-ENTREVISTA COMO Marcos DeBrito:


1- Marcos, pude observar que sua trajetória na literatura é um pouco diferente, visto que é cineasta. Muitos relatam seu processo na área como "inverso", poderia contar um pouco sobre como foi esse processo de entrada no mercado editorial? 
 R: Como sou formado em cinema e atuo nesse ramo desde 2001 (quando tive um primeiro curta em festivais) tudo que escrevo é direcionado para a tela grande. No entanto, é um mercado muito caro e são vários processos para se ter um filme pronto: Escrever o argumento, roteiro, formatar o projeto, aprovar em lei, ir atrás de equipe, de dinheiro, produzir, finalizar, procurar distribuição... Isso tudo leva alguns anos e, por mais pessimista que soe, o mais provável é que o projeto nunca seja realizado.  
Lá por 2008 eu tinha terminado um roteiro e percebi que não conseguiria filmá-lo na época devido ao custo elevado, mas como eu gostava muito da história não quis deixá-la engavetada e adaptei como romance. Sem conhecimento na área e sem contato nenhum no mercado editorial, mandei para as editoras que estavam recebendo originais e fui aceito na Rocco. Daí em diante as coisas começaram a acontecer e, hoje, estou com quatro livros publicados, dois novos para sair na Bienal do Rio em agosto e mais um terminado em busca de casa. 
  2- Ao escrever alguma obra, independente da narrativa, você costuma pedir conselhos ou se inspirar em alguém? 
 R: Eu considero a escrita um processo solitário. Não sou de pedir conselhos nem opinião até que a obra esteja totalmente pronta. Não escrevo para ser vendido e sim para dizer algo, então foco na minha verdade e a deixo fluir. É natural que ocorram algumas mudanças no texto depois, principalmente vindas dos editores, mas são mínimas. Ou gostam do livro e o publicam com algumas adaptações para que seja melhor aceito pelo público-alvo ou negam e penso em uma nova estratégia para passar adiante a mensagem que eu queria. 
Na literatura eu me inspiro, principalmente, em Álvares de Azevedo e Edgar Allan Poe. No cinema é uma lista mais extensa, que vai de Tarantino, Gaspar Noé, ChristopherNolan, até Dziga Vertov e Murnau. 
  
3- Dedica quanto tempo escrevendo por dia? 
 R: Por viver de cinema e literatura, consigo trabalhar com isso em horário comercial. Costumo chegar no escritório às 8 da manhã e sair perto das 17hs. Durante esse período estou escrevendo. Mas escrever não é apenas sentar e começar a digitar uma história. Pra mim, é um processo que envolve muito tempo imaginando situações, pesquisas, leituras, procrastinação... Têm dias que escrevo três ou quatro páginas, em outros escrevo apenas um parágrafo ou uma ideia nova. Dedico todo tempo que tenho à criação, e a escrita acaba sendo uma das etapas. 
  4- Em qual contexto normalmente se vê mais criativo, e logo surgem as ideias para escrever? 
 R: Por mais estranho que pareça, é quando estou entediado. Talvez eu fique buscando alguma saída para algo enfadonho que eu esteja fazendo em determinado momento e surge aquele ideia que acho genial. Acontece bastante enquanto estou correndo, dirigindo ou tentando dormir. Porém, como profissional da área, não posso ficar aguardando a inspiração chegar. Quando preciso desenvolver um texto, com prazo, eu sento na frente do computador e boto os dedos e a mente pra trabalhar. 
  5- O momento mais peculiar que teve alguma ideia para alguma obra especificamente:  R: Hmmm... não sei se é muito peculiar. Mas uma vez eu tinha mudado de residência havia mais de um ano e estava parado no trânsito. De repente, veio a ideia de escreverO Escravo de Capela. Logo percebi que aquilo era importante e fui criando a narrativa na minha cabeça conforme dirigia. Quando percebi, estava tentando entrar na garagem da casa antiga. Meu cérebro ligou no automático e foi para onde achou que deveria ir enquanto eu criava a história. 
  6- Os personagens que cria, tem ligação direta contigo ou pessoas vinculadas à você? Como é a criação deles? 
 R: As personalidades de cada personagem são reflexo das do autor que os escreve. Todos os elementos, situações, refletem escolhas que já fiz ou que tenho medo de ter que fazer algum dia, narradas de forma romantizada para criar uma história ficcional. Crio muitas características a partir de observação. Por muito tempo foquei meus protagonistas na figura do meu irmão, pois somos fisicamente parecidos, mas ele tem um ar melancólico muito mais forte. Geralmente meus textos são sobre dor — física ou emocional — e o olhar dele transparece muito isso. Hoje, por ser amigo de vários atores, costumo escrever pensando em quem combinaria para o papel. 
Sobre a criação dos personagens, seu passado, destino e personalidade nascem prontos. Cada um surge com uma função específica de fazer com que o protagonista aleve a história para o final, seja ajudando-o ou trazendo conflito. 
  7- Já teve vontade de alterar alguma obra depois de pronta? Se sim, qual? Se não, por que? 
 R: Não tenho essa vontade. Acredito que cada obra é importante para mostrar como oautor pensava em determinado momento. Se eu fosse repaginar alguma, seria oCondado Macabro. Talvez tirasse algumas piadas que funcionavam quando escrevi, mas que agora são vistas como desrespeitosas. Acho que eu o submeteria a uma nova revisão literária apenas. Isso não aconteceu na época porque foi uma adaptação fiel do longa-metragem que já estava pronto. 
  8- Uma frase presente num livro ou roteiro de sua autoria, que lhe transmite/remete à um sentimento forte: 
 R: Existem várias outras que gosto mais da construção, mas tem um diálogo entre a Alana e o Vicente, no À Sombra da Lua, que é uma das mais replicadas em resenhas. Estão caminhando em um jardim com várias estátuas e arbustos, lembrando de como tinham medo deles quando eram crianças. Ela questiona sobre isso, de perder o medo quando se tornam adultos, e ele responde: 

“Acho que o medo nunca some, só é transferido das coisas imaginárias às coisas reais que precisamos enfrentar em cada etapa da vida.” 

Ele está prestes a se declarar para ela e teme ser rejeitado. 

9- Qual foi seu primeiro pensamento e sensação, ao ter contato com o primeiro exemplar de um livro seu finalizado? E qual a diferença que sentiu ao assistir seu primeiro filme/curta? 
 R: É difícil de explicar. A gente vê a revisão, aprova a capa, o miolo... Então meio que sabemos como irá ficar. Só que ter o livro em mãos te faz sentir poderoso, realizado. Receber os exemplares é o momento que me deixa mais ansioso. Com filme é bem diferente porque eu acabo realizando, ou acompanhando de muito perto, todos os processos. Vejo o filme repetidas vezes, sendo finalizado aos poucos, e decido quando está realmente pronto. Talvez a sensação mais parecida com receber um exemplar seja a estreia dele para uma sala lotada. 
  10- É difícil conciliar o ser 'autor' do 'roteirista'? Como costuma lidar quando ambos tomam muito tempo? 
 R: No meu caso, facilita, pois em ambos estou criando histórias. É raro eu escrever algo que seja exclusivo para o cinema ou só para a literatura. Já penso que terei ambos os produtos, portanto me dedico primeiro ao roteiro e depois a adaptação. Como no cinema tudo demora bem mais, muitas vezes estou tratando da produção audiovisual de um projeto de livro publicado em 2012 ou 2017 quando aparece uma feira literária para me apresentar ou terminar alguma revisão de livro que está indo para a gráfica. Quando isso acontece, coloco o que for mais urgente na frente. 
  11- Qual maior dificuldade que enfrentou no universo do cinema? E da literatura? Se possível conte mais à respeito. 
 R: A principal dificuldade no cinema é conseguir verba pra filmar. Não é barato e os temas preferidos das empresas investidoras são comédia e drama sobre a ditadura. Eu escrevo sobre violência, terror e derrotas, logo estou um tanto distante do foco principal da indústria. Aos poucos vamos quebrando esse preconceito, mas é uma concorrência absurda porque não existe dinheiro pra todo mundo, ainda mais nessa crise e atual política cultural. Felizmente, este ano, estamos indo adiante com o projeto do A Casa dos Pesadelos, meu último livro que saiu pela Faro Editorial. Ao que tudo indica, filmaremos no final deste ano ou início do próximo. 
Já na literatura, sempre disseram que a maior dificuldade era encontrar uma editora tradicional. Felizmente não passei por isso. Acho que minha maior dificuldade está sendo agora, com meu livro novo, que arrisquei uma narrativa mais experimental e minha casa atual não publica esse estilo. Enviei o original para outras editoras que publicam textos mais herméticos e estou aguardando. 
  11- Uma dica/Incentivo para escritores iniciantes: 
 R: Com relação a escrita, não acredito que exista uma técnica para o processo criativo. O que existe é paciência e foco. Se fosse para dar alguma dica do que funciona pra mim, seria nunca trocar um texto por outro sem antes finalizar o primeiro. Ficar pulando de história em história só te fará ter vários projetos inacabados. Mesmo que esteja enjoado do livro que está escrevendo no momento, continue-o até dar o ponto final.Escrever um livro é um processo longo e se não mantiver um ritmo a coisa não anda. Outra coisa que pode ajudar bastante é ter o desfecho da sua história antes de iniciá-la. 
Sobre publicação, insista. Mande para todas as editoras que puder. Virão muitas negativas, mas você só precisa de um único sim. Se tiver dinheiro, aposte em auto-publicação em casas que respeitem o autor, participe de antologias... Se não tiver, publique em e-book pela Amazon ou no Wattpad. O importante é começar a fazer seu nome ser falado no mercado. 
  12- Algo que gostaria de dizer à seus leitores:
 R: Gostaria de pedir a todos que deem chance à literatura de terror nacional. Temos muitos autores talentosos por aqui que acabam esbarrando no preconceito de alguns leitores. E quando o público não consome um produto, as editoras não sentem confiança de aumentar suas apostas em novos nomes. Isso gera um ciclo de exclusão do gênero que atrasa o desenvolvimento desse mercado. Sinto que houve uma melhora expressiva nos últimos anos, tanto no cinema quanto na literatura, mas podemos ir muito além. Tenho sorte de ter encontrado editoras interessadas nas minhas ideias e acredito que há bastante espaço para o gênero crescer. E isso só irá acontecer da maneira que precisa quando nós valorizarmos o conteúdo que é feito por aqui. 
   Agradeço muito novamente, 
Abraços! 


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Espero que tenham gostado! 
Agradeço muito Marcos DeBrito por ter aceitado responder a entrevista.

Bjs: #SafiSaga
Foto no Instagram @safiraferreira_

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