Chá de Letras #70

"Wilde em Berneval" - Gérson Werlang


Oi oi, gente! Tudo bem?

Leitura que recebi da querida Editora Coralina <3 


É um drama ficcional sobre o escritor Oscar Wilde, em seu refúgio na pequena Berneval, lugar em que ficou durante um tempo após ter sido preso e torturado na Inglaterra por ser homossexual.

Esse livro me foi uma surpresa, pois a cada página se mostrava mais distante do que eu esperava ser, e gostei disso! Primeiro imaginei um drama, e até tem, mas possui um teor cômico de certo; depois descobri que era composto por cartas, mas logo a ideia se foi, pois todas elas não tinham destinatário então, era mais próximo de um diário; e o que eu imaginei ser algo mais sensível, se mostrou uma trama de investigação e mistério que mesclavam com os questionamentos do próprio escritor.

Oscar Wilde convive com muitos fantasmas em si, que envolvem sua identidade - agora falsa para não ser reconhecido como "criminoso" -, seus sentires, saudade da família, em contrapartida de seu amor, mas sobretudo saudades de si mesmo.

Wilde, agora Sebastian, tenta viver tranquilo na pacata cidade, quando todos são surpreendidos por um assassinato misterioso. Um corpo surgira praticamente desfigurado, ninguém soube reconhecer ou fazia ideia de quem poderia ter cometido tal crime. Ele então, sem saber porque, fica responsável por investigar o caso, mas acaba não descobrindo muito, afinal, era apenas um escritor disfarçado. Porém, fica em alerta após o médico dizer que o cadáver encontrado possuia características suas.

Nesse meio tempo, enquanto investiga, acaba conhecendo Emma, uma
mulher solteira e cheia de talentos, com quem logo cria um elo. Infelizmente o irmão de Emma parecia ter envolvimento com o crime e, juntamente à dois outros detetives, Oscar - que escondia a informação de sua semelhança com o cadáver - tenta desvendar este mistério.

É um passeio por devaneios, nos perdemos nessa bagunça mental que espelha a de fora, uma viagem insana e poética, tão lúcida que acaba por confundir o real. Demorei para me dar conta de alguns sentidos figurados que o narrador - personagem - utiliza; pois ainda não sabemos se são ou não. Por vezes ele assumia o papel de Sebastian, nome inventado para se acobertar, e falava como se Wilde fosse outro, tivesse morto. E essas escamas que cobrem uma a outra, são reveladas conforme o mistério também se desenvolve, traçando uma linha tênue entre o fato e o que Oscar trouxe - que enquanto fica mal por enganar a todos, estava sendo também enganado.

Por ser ficcional, achei bacana como o autor conseguiu trazer essa imersão para nós, a mente entorpecida de um escritor traumatizado, confuso, tentando desvendar um mistério quando na verdade está a mercê de desvendar a própria mente. Essas dualidades e mescla de pontos de vista, junto a personagens interessantes, trouxeram um ritmo legal para a leitura, ao mesmo tempo que fez jus à memória de Oscar Wilde.

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Q U O T E S :

"Arranjou-me um rapaz tão atrapalhado que até parece um personagem de Dickens."

"A vida imita a arte, mas com traços sutis de crueldade"

"Quando partiram, fiquei novamente à sós com meus fantasmas"

"Já cometi minha dose de suicídios para esta existência"

"No final, o que sobra é uma meia vontade, que não serve para fazer o que realmente importaria: escrever, criar algo novo, agir em alguma direção concreta."

"Ah, são tantos pesos sobre meus ombros, que não sei como não envergo e quebro como um vara seca."

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