Chá de Letras #76

"A Bolsa Amarela" - Lygia Bojunga


Oi oi, gente! Tudo bem?

Livrinho especial, minha primeira escolha como parceira associada da Livraria Unesp <3 Lembrando que tenho cupom de desconto por la: "SAFIRA15" :)

Primeiro 5 estrelas do ano! Esqueci quanto apreço tenho por livros com ponto de vista/narrativas através do olhar de uma criança. Acredito que muito do que é dito, não escapa a reflexão; pois além do gosto inocente e humor ingêneuo, há cargas pesadas demais dentro de um interpretar adulto e isso conta muito.

Raquel, personagem principal que é quem nos conta suas andanças, é uma criança criativa e curiosa - que muito vê, uma pequena garota com 3 grandes vontades: a de creser, a de ser menino e a de se tornar escritora. Sua vontade de crescer se dá ao fato de que não é levada a sério pelas pessoas que a cercam, sua família limita seus sonhos, não entende sua imaginação e parece não respeitar sua imagem. Caçoam dela, interpretam errado ou nem se dão ao trabalho de saber sua escrita e sonhos, é bem triste. A vontade de ser menino não tem questão com sexualidade ou gênero, mas sim, pois Raquel muitas vezes foi privada de certas coisas que queria fazer, como soltar pipa, por ser menina; aos poucos ela descobre que meninos tendem a ter mais espaço e respeito, por isso a fantasia. E a de ser escritora se da ao fato dela amar escrever e inventar histórias, a garota possui uma imaginação muito fértil e rápida para isso.

As vontades se mesclam, assim como as frustrações que rondam; para conseguir escrever em paz, ela costumava se comunicar por cartas consigo mesma, criando remetentes como personagens que a respondiam  cada um dentro de sua própria persona. Quando um de seus irmãos descobre já faz um alarde e considera um perigo. Até um romance Rebeca tenou fazer e virou assunto de casa, quando não a proibiam achando perigoso, era cômico demais, nunca entravam na dela.

É quando, ao receberem doações de uma tia rica, Rebeca que nunca ficava com nada por ser "pequena demais" e as roupas não lhe servirem, encontra a tal bolsa amarela. Se torna então seu mundinho particular e intrínseco, ela guarda seus personagens falantes (galos), objetos inanimados (guarda-chuva e alfinete) - que também falam e tem suas próprias histórias - que esbarra por aí, e suas vontades. Ao decorrer da história os objetos encontram seus propósitos, os personagens o seu desfecho/missão e as vontades só crescem e crescem em contrapartida de que, quando solucionadas, murcham e murcham. Até a bolsa ficar vazia.

O que me encanta é que aqui tudo vira personagem, tudo sente, tudo move, dá pra ouvir o silêncio das coisas. Acho isso tão lindo e me identifico tanto - fora o fato de querer ser escritora desde criança também e sempre criar um mundinho para objetos importantes que eu acreditava ter alma -, pois gosto de ler e escrever poesias ou crônicas em que o eu lírico são coisas, sentimentos e não só pessoas. Me senti ali com ela, revisitei parte do meu eu também; talvez por isso as 5 estrelas; acho um comunicar único, cuidadoso e fantástico de se ter.

vida habita em cada repartição da bolsa e isso é descrito por uma narrativa que, além de singela e delicada, com um olhar puro de criança, também traz críticas reais e questões tão profundas de forma tão clara que só um olhar verdadeiramente sincero (enfatizando o eufemismo) pode transmitir. 

Eu amei, vou guardar com carinho e ler para meus filhos, com certeza.

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Q U O T E S :

"Fiquei uma porção de dias pensando no meu pessoal pra ver se entendia por que é que eles zangavam tanto comigo. Acabei desistindo também: gente grande é uma turma muito difícil de entender."

"Fiquei numa aflição danada. E se pegavam ele lá fora? E se ele não encontrava outro esconderijo bom? Aí mesmo é que ele nunca mais encontrava a tal ideia pra poder lutar por ela."

"O Afonso botou a máscara e saiu da bolsa:

- Enquanto você descansa eu vou dar uma voltinha por aí. Quem sabe eu encontro uma ideia?

- (Ele continuava louco pra lutar pela tal ideia que ele ainda tinha que achar.) Voltou dez minutos depois.

- Achou?

- Não. Mas achei um guarda-chuva. Estava perdido. Fiquei muito contente porque eu andava querendo te dar um presente. Toma."

"Quebrou tudo que ainda não tinha quebrado, e o que já tava quebrado ainda quebrou muito mais."

"Você acha que se não tivessem costurado o pensamento do Terrível com a tal linha bem forte ele tinha vindo aqui brigar?"

"Tinha milhões de coisas penduradas na parede: cadeira, roupa, caneta, rádio, bicicleta, tinha até um cachorro de verdade com a boca amarrada. Fiquei boba: será que ele também tava ali pra consertar?"

"Ele só é velho por fora. O pensamento dele tá sempre novo."

"- É. Mas não deu pé: caiu de mau jeito e quebrou quatro costelas.

- Desde quando guarda-chuva tem costela?

- Tem vareta: dá no mesmo. Aí eles levaram ela pro hospital. Mas se enganaram de médico e ela foi cair na mão de um dentista."

"Mas o depois demorava, demorava, quem diz que chegava? e eu continuava inventando"

"- BzzzzzzzzZZZZZZZZZZZ tctctctctctctctc ****drer rrrtdtdtd)96785432666666666 66666666 ??????!iuiuiu iuiuiuiuuuuuuuuugdt gdtgdtgdt bzzzzzzzzz2222222 27272722zz4xzyxyxyxyxy tatatatatatatatatatatatatatatatatatatatatatatataaaa クラクシクックタラク 99 ..ta? bzZzzzzzZzZZZZZZZZZ.

Tomei o maior susto. O Afonso desatou a rir:

- Não te disse que a língua dela era complicada?

- O que é que ela falou?

- Ai."

"- lô esquentando. - E dava outro voinho de nada. Ficou assim tanto tempo que a Guarda-Chuva acabou reclamando. Ele então botou a máscara e falou:

- Bom, lá vou eu, quer dizer, lá vamos nós.

- Pra que essa máscara, Afonso?

- Já pensou se eu encontro um avião lá em cima?

- O que é que tem?

— E se o meu antigo dono tá no avião e me vê pela janela? - Apertou bem a máscara. - Já pensou se ele abre a janela, me agarra e me leva de volta pro galinheiro? - Abriu as asas."

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Bjs: #SafiSaga


@safirasafisaga

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