Chá de Letras #77

"O Quadro da Menina Azul" - Susan Vreeland


Oi oi, gente! Tudo bem?

Livro um pouco diferente por aqui, pois faz parte de uma pesquisa que estou realizando. Achei sua linguagem e dinâmica narrativa bem intrigante.

A capa traz a pintura "Mulher de Azul Lendo Uma Carta" de 1664 pelo artista Johannes Vermeer, e o livro conta a história dos lugares por onde esse quadro passou, a diferença que ele trouxe a realidade de seus donos passageiros e como aconteceu essa troca entre cada um sem terem de fato de conhecido, na maioria das vezes. Cada capítulo seguinte aparenta ser o cenário que antecede o atual, fazendo assim com que venhamos a descobrir aos poucos essa história e origem da pintura.

São realidades emocionantes, há desde um cenário mais moderno até o medievo, onde nos apresenta famílias ricas ou pobres tentando sobreviver - em sua maioria mulheres, mais vítimas. 

A escrita da autora é interessante, pois ela se aventura por muitas personalidades e realidades distintas e consegue trazer uma perspectiva diferente à respeito do quadro em cada uma. Apesar de não parecer ter sido o intuito, esse encaixe trouxe muita reflexão de como cada classe social lida com a arte, seus interesses ao que ela pode oferecer, suas formas de contemplação. Isso é bonito, mas também é triste. Principalmente ao atingir épocas em que as mulheres eram caladas ou mort4as ao se expressar.

O uso de aspas para denotar as falas é algo que me incomoda um pouco num livro e aqui não foi diferente, a escrita atua de forma simples, se fazendo maior ao interpretarmos essa questão trazida acima - que de fato não é algo central, mas como foi meu objeto de pesquisa, achei interessante destacar. Porém não é uma escrita ruim, é clara no que faz e apresenta momentos de emoção de forma equilibrada.

Vale conhecer, é um modelo narrativo bem interessante ao se contar uma história, sendo do fim ao início e através de crônicas em cada capítulo; principalmente dada à temática e objetivo trazido. A obra tem seu charme, apesar de não agradar a todos.

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Q U O T E S :

"Cornelius nunca iria saber ao certo se era uma lembrança ou sua própria imaginação inflama-da: dizendo que ele amava mais as cosas que as pessoas. A possível verdade dessa acusação atormen-tava-o, como tudo o mais."

"O rosto da jovem da pintura quase brilhava, os olhos azuis, as faces, os cantos de sua boca brilhantes e acetinados, a luz vindo diretamente até ela, atravessando o espaço que as separava. Ela parecia mais real que as pessoas que se encontravam na sala."

"As cristas das ondas esparramavam-se por sobre os diques do mar em alguns pontos. A morte cinzenta e impessoal estava fustigando o continente."

"E como tocava! As fibras de meu coração vibravam. Poder criar aqueles sons tão celestiais, aqueles tons, ter o poder de elevar assim o espírito - era de espantar que ele despertasse minha paixão? Mexendo com o meu coração como mexia, seria aquilo o desabrochar do amor? Eu não estava bem certa de saber reconhecê-lo. O amor é aquilo que faz uma pessoa inquieta ou que lhe dá uma grande paz interior?"

"(...) me parecia velha demais. Como um queijo. Eu preferia o esvoaçar dos pássaros, e minha mente exultava, sob seu fascínio, apesar de todo Mozart."

"Além disso, havia uma coisa holandesa que eu amava. Era um pequeno quadro, que Gerard comprou para mim, de uma jovem cuja pele tinha a luminosidade de pêssegos diáfanos. Ela olhava por uma janela aberta com uma expressão muito doce e muito inocente, embora a princípio eu a tivesse achado um pouco vazia."

"Voltar a ver tantas pinturas do pai era como andar por uma avenida de sua infância. A janela cor de mel, a cadeira espanho-la, o mapa que ela contemplara, devaneando, pendurado na parede, o cântaro dourado da avó Maria, as pérolas e o casaco amarelo da mãe - eles lhe inspiravam tanta reverência agora que sentia que todos eles tinham alma."

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Bjs: #SafiSaga






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