Chá De Letras #8

Clarabóia - José Saramago

Boa tarde, queridos!
Hoje iremos de uma leitura um tanto polêmica hehe porém é polêmica por um lado bom, claro. Pois a obra de hoje é do escritor... José Saramago!

Como de costume, vamos começar pela parte histórica com informações importantes e mais relevantes sobre a obra e o escritor.
José de Sousa Saramago foi um grande escritor português, qual marcou a história literária do país (não apenas rs). Recebeu diversos prêmios conhecidos e de grandes nomes, além de algumas adaptações cinematográficas de seus livros; a mais famosa delas, creio ser "O Ensaio Sobre A Cegueira", que estreou em 2008, mas também "O Homem Duplicado" em 2014 e "Embargo" em 2010, qual a inspiração foi um poema retirado do livro "Objecto Quase". 

Clarabóia é um dos romances de Saramago, qual fora concluído em meados de 1953. Tenho em vista ter sido um tanto diferente das outras obras, pois comparada à elas, tal é mais atípica (de acordo com referências que tive, já que és a primeira obra que leio do autor, após ver pequenas referências em vídeo e escritas de "O Ensaio Sobre a Cegueira"). Porém ainda assim possui críticas e um embalo filosófico concentrado, podendo notar características do humanismo presentes, já que o enredo e o drama dos personagens - por mais 'simples' que sejam - permeassem à tal. A mais recente edição do livro, foi lançada em 2011 (este que eu li aliás hehe)

O enredo se passa ilustrando o cotidiano dos moradores de um prédio classe média baixa, em Lisboa no ano de 1952. É notório que a rotina deles talvez seja normal, porém assim como todos nós, guardam anseios ora possuem problemas; também não é difícil ver que as realidades por mais próximas, eram totalmente distintas em questão de trabalhos, horários, rotina em si; e claro, essa colocação não foi em vão. Creio que o embasamento crítico vem nas falas dos personagens conforme um diálogo se constrói, à ser levado em conta os questionamentos e preocupações de cada um, a forma como lidavam e se posicionavam em cada situação que os era colocada, ora como consequência de uma escolha, outrora como sendo sofridas sem ter uma escolha, mas sim como o que lhes restava, conforme ditavam suas condições vistos como cidadãos comuns.
Dentre os personagens, temos o sapateiro Silvestre e sua esposa; Lídia, que recebe olhares negativos por ser sustentada por seu amante Julinho; as irmãs solteiras Isaura e Adriana, que vivem à sonhar acordadas, moram com a mãe Cândida e a tia Amélia; o empregado do comércio Anselmo que mora com a filha Claudinha - qual ama o empoderamento de Lídia (porém sem saber como tal vive realmente) - e a esposa Rosália; a espanhola Galícia com Henriquinho, seu filho; o viajante Emílio com a mulher Carmem; e enfim Caetano e esposa Justina, quais vivem em luto pela filha.
Digo que com tantas diferenças entre tais atitudes, visto que se passa numa Europa de 1952, cheia de tabus e diferentes regras; os acontecimentos podem mostrar certas semelhanças e por outro lado diferenças, ao ver o quanto os pensamentos se diferem de hoje em dia. Entretanto, por mais que atualmente todos estejam 'dispostos' à aceitar, também é nítido que é mais fácil disfarçar sua opinião perante uma linha de pensamento à julgar uma atitude ou agir de certa forma, do que naquela época, onde a maioria do povo era conservador.

Não iriei soltar spoilers sobre o enredo em si, os conflitos entre os personagens e o destino de tais; afinal creio que uma obra como essa não deve ser analisada dessa maneira, não daria para absorver a ideia de Saramago expressa de forma correta e assim refletir ponderando seus próprios pensamentos e opiniões. É um livro minucioso, logo os aconselho ler; por mais que tenha achado um tanto quanto difícil a leitura (para mim não foi muito easy me prender ou acompanhar o pensamento citado); afinal, é uma realidade que pode ser comparada à de todos nós, sejamos próximos ou não à situação escrita; porém digo que mostra o reflexo que as atitudes individuais como cidadãos trazem à sociedade.





Quotes:

"-Vivemos entre os homens, ajudemos os homens.
-E o senhor, o que faz pra isso?
-Conserto-lhes sapatos, já que nada mais posso fazer agora."

"A paisagem era sempre igual, mas só a achava monótona no dias de verão teimosamente azuis e luminosos em que tudo é evidente e definitivo. Uma manhã de nevoeiro como esta, de nevoeiro delgado que não impedia de todo a visão, cobria a cidade de imprecisões e de sonho."

"– Não pode ser. O mal e o bem, o bom e o mau, andam sempre misturados. Nunca se é completamente bom ou completamente mau. Acho eu – acrescentou, timidamente.
Amélia virou-se para a irmã, empunhando a colher com que provava a sopa:
– Essa não está má. nesse caso, não tens a certeza de que é bom aquilo de que gostas?
– Não, não tenho.
– Então, por que gostas?
– Gosto porque acho que é bom, mas não sei se é bom."

"Quando fores crescido, hás de querer ser feliz. Por enquanto não pensas nisso e é por isso mesmo que o és. Quando pensares, quando quiseres ser feliz, deixarás de sê-lo. (...) A felicidade não é coisa que se conquiste. Hão de dizer-te que sim. Não acredites. A felicidade é ou não é."

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Espero que tenham gostado! E ai, gostariam de mais resenhas sobre as obras de Saramago?

Bjs: #SafiSaga

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