Chá De Letras #14

A Cabeça Na Cama - Filipe Nassar Larêdo


Bom dia, coalas!
Espero que estejam bem :) Hoje trago para vocês o primeiro livro que recebi de uma editora, a editora parceira: Empíreo <3 Essa obra é um dos últimos lançamentos da editora, e digo que vale demaaais a pena ler, pois além de ser muito bem escrito, tem uma mensagem incrível!

O autor Filipe Nassar Larêdo é um escritor paraense e publicou seu primeiro romance, tendo uma pitada e 'nosense' e sendo realismo fantástico, "A Cabeça na Cama". Então, vamos à história!

O livro é narrado por Tomás, a princípio ele apresenta a história de um ponto de vista futuro, logo já teria acontecido, e onde ele estava agora, sendo seu fim, é triste. Porém ao saber realmente do que se trata e o que se tornou, é surpreendente!
Tomás era um homem de meia idade bem sucedido, que trabalhava como bancário à 15 anos; possuía um ótimo apartamento, era casado com Elisa, psicóloga que havia parado de exercer à profissão depois de ter nascido o primeiro filho do casal. Eles tinham dois filhos, sendo o mais velho Simão de sete anos, e Sarah de quatro anos.
Devido à um pedido médico, Tomás precisa se afastar do trabalho por pelo menos um mês, o que vem em boa hora, levando em conta que ele não saia de férias por um longo período, já fazia um tempo. Logo ele e sua esposa programam uma viagem em família, visto que ambos precisam desse tempo juntos. Os filhos do casal amam a ideia e eles seguem viagem.
Nada poderia estar melhor, até que durante a primeira parada deles em um hotel, Tomás recebe uma ligação do pai, com uma notícia um tanto estranha, absurda e preocupante; o que infelizmente os faria ter que voltar para a casa. Tinha uma cabeça na cama no apartamento. 
Convencer as crianças à voltar não seria nada fácil, porém o difícil mesmo seria contar à sua esposa Elisa. Ainda mais, pois Elisa já desconfiava do sogro, por conta de episódios passados que o narrador conta durante o enredo. Porém eles voltam; chegando lá Tomás é o único que sobe até o apartamento, deixando as crianças com Elisa, que decidi ficar na casa da irmã Glória enquanto tudo é resolvido.
Chegando no apartamento, Tomás encontra o pai, com uma aparência péssima. Ele teria passado tempo demais sem dormir e sem higiene pessoal, porém o mesmo vai embora para a casa, deixando Tomás sozinho com a cabeça; não se esquecendo de alertar o filho para acabar com ela o mais rápido possível.
Então, dali em diante a narrativa passa somente dentro daquele quarto e passeia por memórias e pensamentos de Tomás vez ou outra. Sabemos então de episódios importantes de seu passado, como a relação dos pais, o dia em que conheceu a esposa e episódios marcantes com os filhos. Não se esquecendo também, de algumas visitas que apareciam de vez em quando, para tentar alguma comunicação mais próxima com o homem. Porém Tomás se via preso ali, vendo seu declínio mental ser depositado na busca por desvendar o que a abeça diz e qual seu propósito ali.

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Não irei revelar o final da história, pois como eu disse, é surpreendente! Tanto que após descobrir eu reli o começo e algumas partes em que Tomás se referia ao presente e tudo se encaixou de maneira perfeita, o que na verdade lendo pela primeira vez havia entendido de forma diferente. 
Digo que o final é muito forte, além dos acontecimentos descritos, seu fim nos leva a à analisar o ser humano cru, seus pensamentos, males, suas reais condições, prioridades, anseios, etc.
O livro em si possui uma linguagem simples e de fácil compreensão, digo que prende bastante também. Porém seu ponto mais forte é que nos leva a questionar a condição humana em seu mais profundo, assim também, analisamos nossa própria condição. Desgaste físico, mental, todos os pontos mais implícitos em nós que fariam com que uma cabeça pudesse surgir em nossa cama, sendo tal ser incompreensível, em decomposição e incompreendido, nós mesmos; levando-nos a próximos possíveis seres na mesma condição.
Uma obra brilhante eu diria!

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Selecionei vários quotes! Segue:

"Decidi contar essa história enquanto ainda tenho lampejos esporádicos de lucidez. Aqui não recebo mais visitas de familiares. Creio que ninguém mais deseje aproximar-se do que me tornei." - pág 12

"Algo que eu, homem de números, não de letras, nunca tive" - pág 12

"Se eu pudesse adivinhar que aquela seria a última vez que isso aconteceria, não teria voltado para a casa (...) O abraço de Sarah é a última manifestação de amor de que me recordo plenamente. E é a única que permanece comigo até hoje, preso aqui neste quarto." - pág 45

"Uma pena que o máximo que tenha conseguido de Simão, tenha sido esse rápido olhar" - pág 54

"Mas como lhes falei... Elisa nunca o perdoaria. Nem eu." - pág 75

"Acelerei os passos e finalmente cheguei em frente à porta do quarto. Não havia mais espaço para hesitação. Era abrir a porta e descobrir o que estava guardado ali dentro." - pág 84

"Desisti da faca" - pág 84

"O quarto seria o meu refúgio. Meu e da cabeça. E eu tornaria impenetrável. Ali dentro ficaríamos juntos, só nós dois, até que eu desvendasse seu enigma." - pág 92

"Pouco antes da segunda trovoada, escutei...
 -Eu odeio" - pág 103

"Aquela noite passaria, e outros dias naquela vila passariam. Ficaríamos juntos e ela manifestaria uma crescente empolgação com a descoberta do novo parceiro. Voltaríamos para São Paulo no mesmo carro. Namoraríamos dali um tempo. Elisa se formaria em psicologia , e nós casaríamos e teríamos dois filhos. Formaríamos uma família e compraríamos um apartamento no décimo sétimo andar, onde moraríamos até o surgimento da cabeça." - pág 107

"Durante vinte dias, deixei o telefone convencional fora do gancho e perdi absolutamente o interesse em verificar mensagens e ligações que recebia (...)" - pág 119

"E, pela primeira vez, questionei minha sanidade" - pág 123

"A Cena que vi foi assustadora.
 O reflexo de meu corpo no espelho mostrava fraqueza e desnutrição. Sujeira. Imundície. Eu era o retrato da degeneração física que vinte dias de reclusão com poucos alimentos e nenhuma higiene pessoal poderiam ofertar." - pág 124

"Com a arma carregada, restava o mais importante. Disparar. Todavia dar um tiro na própria cabeça não era simples. Nunca havia chegado tão próximo do suicídio." - pág 124

"Limitar-se ao mero registro dos fatos se não fossem as demonstrações de transtorno, que têm sido mais frequentes nos últimos dias." - pág 128

"Quase sem energia, meu corpo estava prestes a sucumbir de cansaço, mas era minha mente que estava mais avariada. À beira do colapso e embalado pela sinfonia grotesca que vinha da cabeça, nada mais fazia sentido para mim." - pág 138

"Eu tomado seu lugar e, então, finalmente, poderia descobrir seus segredos." - pág 139

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Agradeço mais uma vez à editora pelo envio :D Espero que tenham gostado! Recomendo demais a leitura <3 

Bjs: #SafiSaga

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