Chá De Letras #16

Estética Musical Em Santo Tomás De Aquino - Thiago Plaça Teixeira 

Boa noite, coalas!
Vocês estão bem? :) 
Hoje trago mais um título que recebi da parceria maravilhosa, Editora Appris <3 Digo que és uma obra um tanto conteudista, que visa o aprofundamento musical, com ênfase na estética Tomista. Vamos lá então?

Thiago Plaça Teixeira, arquiteto que nasceu em Curitiba, também teve sua formação em Piano pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, sendo mestre e doutor em Música - Musicologia. Já foi premiado em mais de dois Concursos, sendo nacionais e internacionais, também participou como solista e acompanhador em alguns concertos, coros, óperas, festivais de música, etc. É pesquisador direcionado aos estudos da música sacra! Teve esta sua obra publicada ainda este ano pela Editora Appris.

O livro em si apresenta muitas referências e também imagens, tentarei sintetizar o assunto de forma clara e de mais fácil entendimento; porém se quiserem se aprofundar melhor no assunto, basta entrar no site da Editora Appris! Inclusive, tenho um cupom de desconto "SAFISAGA", que da 15%OFF em qualquer livro, aproveitem :D

A obra é dividida em partes, irei colocar aqui para depois escrever especificamente sobre cada uma delas: Santo Tomás de Aquino e a Música, Música e Emoções, Música e Números, A Beleza, Música e Beleza, Uma Estética Musical Tomista.




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Começando por quem foi Santo Tomás de Aquino; um frade católico que representa inclusive a Escolástica, suas obras influenciaram em muitos aspectos a filosofia e teologia. No livro, iremos notar a fundo seus conceitos, estudos e obras.


-SANTO TOMÁS DE AQUINO E A MÚSICA:

Santo Tomás estudou o padrão musical medieval, tendo então duas vertentes: Trivium e Quadrivium. Sendo Trivium: gramática, retórica e lógica; e o Quadrivium: aritmética, geometria, música e astronomia. Nota-se também seu contato pessoal com a arte da música no tríplice aspecto: I - Formação Intelectual, II - Vida Religiosa e III - Suas Composições Litúrgicas. 

Passamos então para sua estética musical. A estética Tomista, constitui-se de uma subdivisão da estética - uma reflexão existente na filosofia, que visa o belo e suas condições na arte - e como tal é vista em contraponto à música e sua sua relação com o belo, sua base filosófica ao retratar a beleza musical.
Logo, iremos descobrir as soluções, sejam elas explícitas ou implicitamente, que nos mostra Santo Tomás de Aquino.
Sendo frade Domiciano, notamos a forte prática com a música sacra em suas composições, e também com o canto litúrgico. Logicamente, há estímulo da cultura na época, onde é notório proximidade com Santo Agostinho e mais ainda, Boécio - filósofo, herdeiro da cultura antiga, influenciador do pensamento escolástico, tinha proporções no pensamento pitagórico original também, desenvolvendo uma doutrina de teoria musical. 

Logo o livro apresenta algumas figuras que ilustram uma pauta musical da época, os chamado sermões da igreja, que eram divididos em partes, sendo essas: Intróito - Entrada da liturgia, Antífona - Texto curto antes do salmo, Versículo do Salmo e Gloria Patri. Outra curiosidade, é que eram feitas três missas de Natal, para comemorar o tríplice nascimento de Cristo; sendo primeiro o eterno, e segundo temporal, e o terceiro temporal corporal; lembrando que para ambas as missas, era reservada uma canção única.
Também existem aqueles textos litúrgicos que ele mesmo compôs, sendo alguns: Hino de Matinas, Hino de Laudes, Hino das segundas Vésperas e Sequência.

Santo Tomás tinha algumas regras à compor, seguindo uma metrificação, regularidade rítmica, etc; elementos que concretizavam conceitos artísticos presentes como característica do Belo. Como dita o pensamento tomista: clareza, ordem, completude, proporção, etc. Notamos então uma análise bem afundo à suas obras, evidenciando alguns pontos importantes como a linguagem utilizada nas primeiras estrofes e também o conteúdo, que acabava seguindo uma ordem: I - Louvor ao Santíssimo, II - Razão da Comemoração, III - Doutrina Sobre a Eucaristia, IV - Cumprimento da Eucaristia, V - Pedidos à Cristo. E como E. Gilson deixa em destaque, o aspecto poético fora absorvido pelo religioso, devido à presença dos dogmas.

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-MÚSICA E EMOÇÕES:



Nesta parte irá tratar de um efeito da música que eu particularmente acho incrível, se tratando da influência que tal pode trazer ao psicológico emocional do homem; sendo estes deleites, paixões, suscitar nossa estrutura interior, comportamentos, etc. Logo foi subdividido em 2 pequenas partes: 

1. O Efeito Da Música Litúrgica: Dividido em dois artigos, a questão 91 existente na segunda seção da segunda parte de Summa Theologiae, qual trata sobre invocar o nome de Deus. Sendo o primeiro exigindo que se louve oralmente, usando palavras à partir da fala; não para intensificar ao Senhor no interior do homem, mas sim, para que seja estimulante à todos intensificarem este louvor falado. E o segundo, é para o humano encontrar o divino.
Ao que se refere ao artigo, também tem presentes em obras de Aristóteles, Boécio e Santo Agostinho; alguns pensadores que também chegaram a conclusão de que diferenças na melodia, transmitem às pessoas sentimentos distintos também. Santo Tomé também explica a primeira objeção que afirma não usar de cânticos ao louvar à Deus, dizendo que isso se aplica apenas aqueles que cantam de forma teatral para assim enaltecer à si mesmo; algo que Jerônimo, ao expor na segunda objeção, também condena e repreende. Já sobre a terceira, defende que os de maior dignidade na igreja devem se dedicar mais ao ensino do que ao canto, visto que era a devoção de cada um à Deus. A quarta se liga ao uso de instrumentos, logo ele associa ao pensamento de Aristóteles, em que o mesmo acredita que estes sons alimentam mais a alma, do que causam deleite e estruturação interior. Já em resposta à quinta objeção, que dita os cânticos tirarem a atenção dos fiéis, ele responde baseando-se em Agostinho; dizendo então que de tal forma os fiéis não devem prestar mais atenção no modo que é cantado, mas sim no significado das palavras cantadas.

Assim como em Summa contra Gentiles, conta com algumas ações que devem levar o homem à oferecer sacrifícios e santificar o nome do Senhor por meio de coisas sensíveis, sendo uma dessas coisas e ações, o canto.  

Já em Sent, afirmava existir dois tipos de oração; sendo a que fazemos individualmente tratando de nossa íntimo, e a pública, qual em sua opinião e naquela época seguindo os dogmas, deveriam ser responsabilidade apenas de ministros da igreja. Nesta obra também existe o tríplice bem: o corporal, espiritual e extrínseco, com quais devemos demonstrar nossa adoração à Deus. 

Além desses Summas, Santo Tomás também deixou textos em Epístolas do Apóstolo São Paulo. Ao comentar o versículo 2 do salmo, que diz: "Celebrai o Senhor com a cítara, entoar-lhe hinos na harpa de dez cordas", para exemplificar o poder da música, também cita Boécio, qual diz que as consonâncias musicais afetam o homem; e também ao Livro VIII a política de Aristóteles, qual mostra três gêneros musicais, em que cada um deles afeta o homem de uma maneira, sendo I - retidão e firmeza, II - arrebata as coisas elevadas e III - repousa na doçura e alegria. Logo Tomás cria uma conexão com a teoria musical medieval eclesiástica - modos: dórico, frígio, lídio, etc. Sendo assim, o gênero I carregaria o primeiro efeito, dórico, na alma; o II as coisas celestes, sendo o modo frígio (instrumentos como trombeta); o III - sendo alegria ao modo lídio, assim como também os saltério e a cítara (instrumentos como órgão).               
Ao citar o versículo 3 "Cantai-lhe um cântico novo, acompanhado de instrumentos de música"; logo cai na reflexão e resposta de que a música por instrumentos poderiam afetar de forma negativa ouvintes não dedicados totalmente, enquanto por outro lado, somente voz, seria mais preeminente. Então, assim como Bruyne, ele acredita que a música litúrgica deve ser em vocal simples, trazendo a devoção em específico. Como dito em documentos encontrados recentemente, és a finalidade da música sacra; em que seu fim é propagar a glória de Deus e santificar os fiéis.
Segundo o papa, a música deve ter três qualidades: 1 - ser santa, 2 - arte verdadeira, 3 - ser universal. Diante desta então simplicidade, se pode encontrar referência direta ao canto gregoriano.


2. O Deleite Estético e a Moral: Nesta parte, destinará ao que provoca o deleite.
Segundo Eco, para Tomás a música é a arte que mais se conecta ao prazer estético; leva-nos a questionar porque certos objetos são mais facilmente aprendidos por nossos sentidos do que outros. Em primeiro, o deleite surge da proporção interna do objeto, contrastando com a sensibilidade existente da estrutura de seu receptor; e em segundo, segue sua conveniência sendo agradável a aprender.  
Indo para o lado psicológico, existe a questão dos prazeres também; ao trazer à esta discussão, o humano, desprovido de interesse, supri seu desinteresse na apreensão do contexto de belo presente no objeto. como diz Eco, há o desinteresse pois são se liga à utilidade, criando-se então um ser espiritual se encontrando com tal beleza.                                                                            Em S. theo, Tomás diz que deleites se dedicam à virtude e temperança; em que a intensidade ocorrerá de acordo com a necessidade natural. E para Eco, além de prazer de tato, seriam os deleites estéticos; logo Santo Tomás nos diz que o homem possui a capacidade de deleitar-se na beleza de objetos sensíveis, eis uma das coisas que nos diferem dos animais irracionais, o fato de sentir prazer não só por necessidades biológicas, como também ao admirar algo belo e tomar estes para nós, deleitando-se então.
Logo nota-se este prazer desinteressado na música, em que o homem deleita-se na harmonia gerada, e não diretamente à virtude e temperança, mas a autonomásia - não virtude, mas condição que acompanha as virtudes morais, em moderação à razão e paixão. "Se alguém deleita superabundantemente, não será temperante ou intemperante, pois são prazeres veementes, logo se refere à outra virtude ou vício"
Em lib.9, Tomás compara deleites da boa ação, aos da boa música; em que no mesmo lado temos o homem que se alegra por boas ações e se entristecem por más, e os homens que se alegram por boas músicas e se entristecem por ruins. Já em lib.10 menciona prazeres resultados de combinações de elementos sensíveis, sendo agradáveis a natureza da pessoa ouvinte; logo não se aplica a moralidade na música, visto que se trata de classes e bem estar e deleite do ouvinte em específico. Então, assim como para Bruyne, não deve ter condenação à esta arte, pois possuem uma visão intrínseca. Logo Tomás se aproxima dos pensadores como Bruyne, Platão e Aristóteles a respeito.
Pode-se dizer também que a estética tomista revela o aspecto do psicológico musical, mostrando os efeitos da música no âmbito sensitivo intelectual do homem. Então quando alguém está entregue ao prazer da música sem discernimento, este prazer tende à assumir a própria vida, abrindo campo para deleites em outras áreas também através da música; assim começando a agir mais por paixão que por deleite propriamente dito.
Em seu ponto de vista, é lícito ao encontrar repouso espiritual, e errado quando: I - tem alcance imoral, II - não coloca o lúdico como prioridade, III - acaba com o espiritual. Logo o objetivo da música é provocar um deleite desinteressado à um propósito, não deleite sem ordem ou excessivo, que acarreta imoralidades.
Também encontramos sua estética na melodia, em que há intervalos melódicos de modo eclesiásticos, sendo a organização de tons e semitons dentro de uma oitava; no ritmo, em que muitas vezes os que escutam o som, estão propensos a imitar tais batidas constantes fazendo a marcação com o corpo ou algum objeto, também movimentos; e o timbre, em que  o sonar dos instrumentos, eram conforme a estética dada ao povo; sendo mais grave quando o povo era mais feroz.

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-MÚSICA E NÚMEROS:

Nesta parte, veremos a relação da música com a matemática; inclusive um episódio muito interessante de Pitágoras ao ter contato pela primeira vez com os agora chamados: intervalos de tempo, ou consonâncias, como trará um dos pontos. Aliás, tal parte se divide também em 2, e por ser bem técnica - possuindo imagens e contas - eu irei focar mais na teoria filosófica à respeito; porém se tiver interesse em saber mais da teoria musical, todas as fórmulas e figuras, basta entrar em contato ou adquirir o livro com a editora!

1. Consonância: A teoria musical na Idade Média, era ainda fundamentada sob influência de Santo Agostinho. Segundo Tatarkiewicz, uma das características mais marcantes da música medieval, é a proximidade dos sons com a matemática, sendo essencial a relação entre proporção e números.
Há um relato, que conta sobre Pitágoras, dizendo que tal trouxe essa proximidade entre números e música na Idade Média. Começa quando Pitágoras, ao passar perto de uma forja, escuta o som de martelos batendo, gerando tal consonância ou harmonia, devido à diversidade da força em que os ferreiros batiam; para afirmar sua teoria, pediu para que os ferreiros trocassem de martelos uns com os outros, então observou que as consonâncias continuavam, porém não era dada pela força que os ferreiros exerciam, e sim pelo peso de cada martelo. Logo, ao calcular baseando-se na posição de cada um, destacou a proporção dupla que tinha consonância diapason, proporção sesquitertia com consonância diatessaron, proporção sesquialtera com intervalo de quinta e proporção sesquioctavia, com intervalo de um tom. Essas proporções eram dadas através das vibrações de duplas, assunto tratato também por Boécio, outro grande influenciador da música medieval. Além de que Tomás havia dito em Setentia super Physicam: "A forma de uma oitava é uma proporção da dupla, que é a relação 2:1. Pois as consonâncias musicais são constituídas pela aplicação de proporções numéricas aos sons como uma matéria". Logo notamos que existem infinitas proporções, porém algumas são harmônicas devido à consonância.

Algo que achei curioso destacar, é que as proporções numéricas, fundamenta-se também em frequência; como lemos em In Metaph, a definição de sinfonia se da por sons graves e agudos que como matéria, se misturam. Então, as proporções numéricas, ao serem aplicadas na música, revelam sua altura entre os sons.
Outro ponto também, até citado por Bruyne, é a simplicidade musical que existe na Idade Média, logo diz: "quanto mais simples é a relação numérica estruturante dos sons, mais facilmente o ouvido a capta e mais facilmente a razão compreende". Dai surgem então, as consonâncias simples: oitava (1/2), quinta (1+1/2) e quarta (1+1/3). E dessas simplicidades que notamos então, o deleite estético (citado no tópico passado), qual exibe a conexão entre proporção objetiva, prazer sensível e juízo da razão. E de acordo com Boécio, esse deleite é levado por apreender estas relações matemáticas.
Além disso, são levados em conta outros elementos, como o: ritmo, métrica e melodia; quais evidenciam: melodia - números, intervalos; ritmo - sucessão nos sons e pausas; métrica - duração e associação às palavras; também há a simultaneidade, que seria a relação de diversas vozes ao mesmo tempo. 
Encontramos também na reflexão tomista, a unidade normativa musical; sendo uma das principais medidas com critério de mensuração, onde sua básica diesis teria um intervalo de tom menor. Dentro da então unidade melódica, encontramos duas vertentes: I - ordem matemática reage segundo as consonâncias; II - a própria experiência, sendo visual e auditiva.


2. A Música Como Ciência e Como Arte: "a reta razão no que deve ser
conhecido", "conclusões a partir dos princípios", são algumas afirmações feitas por Santo Tomás de Aquino sobre o que é ciência. E ao encaixar a música, ele a dita como uma ciência intermediária, pois se encontram a ciência matemática e a filosofia natural, partindo dos princípios da aritmética, se aplicando na matéria sensível, que seriam os sons audíveis. Logo a ciência vista na música, é a abstração da produção gerando o tal sonar, sendo os números aplicados ao som, como a divisão de um tom por exemplo.
Também existente neste ponto, é a factividade, onde notamos não só a ciência, como também a arte. Diferente da ciência que é cognoscitiva, a arte é produtiva; sendo assim também diferente da moral, que visa o senso comum à todos, a arte tem um fim particular, e parte de um ponto de vista particular também. Desta forma, Tomás distingue os campos da atividade humana, sendo: conhecer, agir e fazer. 
Para Santo Tomás e os demais pensadores medievais, o conceito de arte medieval se definia em belas artes, sendo: arquitetura, pintura e música; porém a música se diferia das demais, por ser classificada como arte liberal, que seria possuir o mesmo aspecto produtivo, porém gerando como resultado, algo imaterial.
Uma frase que achei bem interessante sobre este assunto, foi "Na arte ninguém produz uma obra artística, exceto aquele que possui a arte", desta forma podemos trazer isso à música como arte, logo ele explica então que o ato acontece por meio de um agente que já se encontra no próprio ato; professores de música por exemplo, que ensinam aquilo que praticam, o que é aliás de mais fácil absorção. Concluindo então, que o ato de produzir música consiste no conhecimento obtido não só pelo estudo, como também pela prática.

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-A BELEZA:

Veremos agora a aproximação da música com o belo, se mostrando assim também com a teoria de Angélico sobre. Tomás expõe sobre o que pensa à respeito do belo, que acaba por tecer as mesmas linhas que os pensamentos de Bruyne e Alberto Magno. Para ele então, o belo é algo desejável, assim como também a natureza do bem.
Logo, o bem e o belo se identificam, sendo o belo: forma e bem: ordenação; quais andam em harmonia; sendo também o bem: aperfeiçoador e o belo: esplendoroso. Diz então que Deus, como o bem e o belo, coloca tais nos demais objetos ou seres existentes, Teu brilho. O belo então, é o resultado de quem produz a beleza, proveniente de Deus e depois em nós, que somos a Tua imagem e semelhança; sendo Deus a fonte de toda a beleza, e seu conceito. Logo conclui que Deus sendo a beleza divina, a multiplica, gerando assim Tua criação que somos nós.
A partir do que Tomás escreveu em Scriptum super libros Sententiarum e De Veritate, notamos que há quatro ideias principais que tem à respeito do belo: I - belo com o bem; II - sua proximidade com a verdade; III - analogia à Deus, digno do conceito de beleza; IV - a participação da criação na beleza divina. Já em Summa Bruyne diz que as qualidades dizem a respeito da visão do apreciador, se relacionando com cada consciência específica e seu deleite.

*Os Caracteres Objetivos do Belo: Sendo os principais a proporção, integridade e clareza; e segundo Dionísio, há também a consonância, clareza e magnitude. Tomás diz em In De div. Nom "Deus confere beleza às coisas, enquanto é causa de consonância e claridade em todas as coisas"; em que o deleite ocorre devido à proporção das coisas e o esplendor virtuoso ao observar, pela luz da razão.
Logo há uma subdivisão entre alguns caracteres mais definidos, e no livro, dentro dessas subdivisões há também mais divisões, logo irei sintetizar a ideia de cada uma:

1. Proporção ou Harmonia: Existem vários tipos de proporção, e mais pra frente veremos especificamente a qualitativa e quantitativa; sendo assim, vamos mostrar alguns exemplos concretos;

I - Essência e existência: coisas que se completam
II - Adequação entre matéria e forma: pela forma, uma coisa é concreta em sua matéria própria
III - Ordenação quantitativa de elementos sensíveis: coisas apreciadas através dos sentidos humanos mais apurados
IV- Adequação de algo à sua função: ponderamento entre o que algo expressa e sua função final
V - Relação entre as distintas partes que constituem um conjunto: ordenar as partes para que haja harmonia (se divide em corpo humano, universo e igreja católica este tópico também)
VI - Relações de concordância entre pensamentos e ações com os ditames da lei moral: homem ter equilíbrio entre o esplendor e a razão
VII - Adequação entre cognoscente e cognoscível: identificar algo pela inteligência ou sentidos.
(Gostaria de falar sobre a harmonia estática e dinâmica, importantes pontos dentro do tópico V; em que a estática é a união dos elementos distintos do universo e a dinâmica são as ações de distintas criaturas no universo.)

2. Integridade ou Perfeição: Em que integridade é a relação entre uma coisa, e
o que lhe realizará, e perfeição um critério, que aliás todos tem o seu próprio. Logo a perfeição se tornaria a verdadeira realização de cada um, tendo então três formas de verificar, exigentes por Santo Tomás: I - Determinado por uma forma; II - Atuar segundo esta forma; III - Alcançar o fim qual se adapta. 
Sendo assim, tando o excesso quanto a carência, podem atrapalhar, certa vez que a forma estiver conforme.

3. Claridade ou Esplendor: Chamados claritas, tem diversos sentidos, como literal ou metafísico; além de significados: 

I - Luz da cor física: algo superficial
II - Luz da razão: comportamento do homem equilibrado entre a razão e o esplendor ao apreciar
III - Luz da reputação terrena: quando alguém se torna famoso aos outros 
IV - Luz celestial: experiência perceptível apenas à alguns em sua vida terrestre

Todas porém possem uma forma esplendorosa em comum, ligando-se a manifestação do seu princípio de organização. Claridade por sua vez, dita a visão do observador perante um objeto, mostrando assim o deleite estético presente. Mas para que uma obra seja considerada bela em um determinado sentido observando-a com uma finalidade, estão presentes alguns elementos: variedade, unidade, proporção entre, etc)
Então, destacam-se no pensamento estético de Santo Tomás de Aquino: I - dimensão objetiva e subjetiva; II - condição analógica ao dar-se analogia aos distintos.

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-MÚSICA E A BELEZA:

Beleza do âmbito artístico, de acordo com o pensamento tomista, é "aquilo cuja apreensão agrada", o deleite que uma melodia pode causar por exemplo. Logo aparecem novamente a proporção, integridade e clareza.

1. Proporção: consonância entre os sons, harmonia. Temos aqui as quantitativas e qualitativas 

*Quantitativa: aritmética presente nos sons, de acordo com Fubi, tal fenômeno se da pelo número de vibrações de determinada altura por segundo, e o intervalo entre elas. Assim também pode-se dizer da escala, em que há divisões de oitava, levando em conta a constatação numérica (físico-acústico) e a apreensão do ouvido humano (psicológico). Vemos isso também nas músicas eclesiásticas, que se diferem por ter uma diferente escala conforme se dividem tons e semitons.
Se diz então que as proporções numéricas definem a matéria transmitida pelos sons emitidos, sendo também encontrada a altura sonora. Essa proporção faz as seguintes diferenciações I - altura dos sons; II - organização destes na oitava; III - intervalos de tempo, consonâncias pelos números (no caso do ritmo há um fator de unidade dos sons). Além de aspectos como: intensidade e velocidade

*Qualitativa: este tópico tem o conceito mais amplo, visando a harmonia estática de forma visível e sonora, harmonia assim também em entes do universo. Para se ter uma constituição interna entre eles, é preciso: concordância, ligação, sem distinção, proporção em diferentes partes
Tal analogia então, dita um universo particular belo, determinado por cada estrutura, sendo a "disposição enquanto composto de diversas partes", também a distinção e semelhança, é preciso a hierarquia. Sendo a hierarquia, determinada predominância de certo agrupamento na obra. Logo as unidades musicais sendo distintas, concordantes e em hierarquias, precisam agir mutuamente e se ligar à um mesmo fim. Desta forma então, irá refletir o que o homem deverá aprender a contemplar o universo.
Tomás então se da por questionar se Deus poderia ter feito o universo melhor, porém responde para si que "o universo consiste em dupla ordem, a saber, as ordens das partes do universo entre si e a ordem de todo o universo ao fim, que é o próprio Deus". A harmonia então, vem da reciprocidade entre as demais coisas.

2. Integridade: Relação entre a obra e sua interpretação, e também a ideia que
é aplicada à determinada estrutura; sendo que na música existe um critério estético também. O último tópico é a finalidade da obra, em que em seu pensamento se destacavam duas, a liturgia católica e a fruição estética; em que a primeira tinha como objetivo causar devoção interior e a segunda um deleite moderado.

3. Claridade: harmonioso com a integridade, tem a noção de esplendor. Trata também da receptividade do observador, porém levando em conta a ordem interna do que está sendo apreciado. Conclui-se então que o conhecimento do homem provém do que ele nota com os seus sentidos; e no caso da música tal claridade se mostra nas relações entre os sons e a estrutura dos componentes, e também ao caráter exposto em determinada expressão feita.
A claridade então está presente, como um som é emitido, agrupado e organizado.

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-ESTÉTICA MUSICAL TOMISTA:

Aquele que não sabe o porquê de sua existência, precisa de uma causa; sendo ser finito, há de ter uma virtude em si, porém quando tal não lhe afirma, temos aqui quatro tipos de dependência causal: I - em si mesmo; II - em sua constituição; III - em sua origem; - IV - em sua atividade; já os tipos de causa: material, formal, eficiente e final.
No livro ele exemplifica bem a fundo todas as causas, porém irei resumi-las aqui então todas no contexto musical:

#Causa Material: aquilo que é feito, o que pode-se usar para fazer um som
#Causa Formal: o que determina, obra que mostra o que está na mente, exemplificação
#Causa Eficiente: agente responsável por sua realização, contém ai, o tríplice aspect
#Causa Final: distinguir a finalidade da obra da finalidade do agente, sendo a beleza vista pelo ponto de vista tomista, objetiva ou subjetivamente. Em que Deus sendo o centro, as coisas tendem a ser criadas para dois fins, sendo para a glória de Deus e para nossa utilidade terrena.

Concluímos então que a beleza musical está na organização das ideias musicais; e possui causas, sendo elas: formais, eficientes e materiais; com tons racionalmente e esteticamente agradáveis. E independente da causa, há uma perfeição manifesta, visto que depende do observador, obra ou ser agente.





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Espero muito que tenham gostado e assim como eu, aprendido muita coisa! Eu sinceramente amei ler sobre, gosto de Tomás, porém nunca havia procurado a fundo sobre este tema, e digo que gostei bastante!
Claro que eu resumi demais o livro, lá tem exemplos com figuras, falas, textos e demais curiosidades muito ricas; então caso tenha interesse é só dizer! Lembrando que possuo um cupom de desconto também :D






Bjs: #SafiSaga
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

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