Chá De Letras #31

"Escritos" - Maria Stella B. Machado

Oinn, como vão?
Finalmente uma resenha depois de tanto tempo! Desta vez, trouxe um lindinho que adquiri anteontem a tardezinha, ao visitar um sebo fofinho com uma amiga especial. Foi amor a primeira vista rs A capa me encantou, desde sua cor, até a sutil e imagem presente envolta por uma moldura, como também a fonte utilizada e claro, o título.
É um livro bem pequeno, quase que de bolso, e de fácil linguagem.
Uma das coisas que me fez apaixonar também, foi a trajetória da autora na Literatura. Graduada em 1948 pela USP, aos 16 anos, em Línguas Neoclássicas, e mestre na mesma instituição, em Literatura Francesa <3
Além de que a proposta da obra num todo é muito linda, pois é uma homenagem à ela; após sua morte; feita pela marido, filhas e netos. O livro une diversos textos da autora, sendo em formatos variados: crônicas, diário pessoal, contos, resenhas e ensaios.

Como é uma obra que não possui uma única história em si, irei colocar alguns quotes e partes que gostei, intercalados com comentários meus.

~*~

Este livro te leva à imergir numa leitura íntima; tanto de si, quanto da obra num todo, por ser algo fora dos holofotes e conter nítida sinceridade em cada detalhe. 

-Esta São Paulo Que Você Não Conhece - Crônica (pág 29 -32)

"Às vezes me acontece de aproveitar um tempo livre para vadiar pelas ruas,  sem destino, sem hora, sem pressa. Foi numa dessa ocasiões que descobri, entre surpresa e delicada, uma residência de mundo encantado. Imagina só: num primeiro plano, no nível da rua, mas afastada da calçada, uma casinha de portas e janelas minúsculas; o teto, acabado em ameias pequeninas, lembra a figura heráldica do nosso brazão com o 'non ducor, duco'. É ligada à rua por um caminhãozinho cuja entrada é guardada por dois enormes leões de pedra, de expressões quase humanas, pesadamente sentados, mas vigilantes. Uma escultura feminina, parcialmente destruída, colocada num mirantezinho à beira da rua, uma outra posta no chão, diante da casa, em atitude graciosa, aguçam minha curiosidade. (...)"

A escrita de Maria Stella é encantadora, e muito boa de se ler. Como se as palavras te convidasse para um chá, ou fossem um abraço gentil. Tudo bem pontuado, não digo apenas gramaticamente, como também de forma intrínseca.
O que me chamou a atenção também foram os títulos dos textos, simples, por vezes comuns palavras ditas no dia-a-adia, porém que carregam um grande significado íntimo, torando seu impacto ainda mais forte.

-As Rosas Não Falam, Simplesmente, As Rosas Exalam (de uma música do Cartola) - Crônica (pág 39 à 41)

"(...) Caía uma garoinha fina. Saí do carro estaciconado à frente do potão do cemitério. Estava deprimida, muito triste e muito só. Comecei a caminhar sob a chuva, sem pensar em me resguardar, tomada pelos pensamentos. Viver é tão difícil! E morrer então, deve ser muito mais. (...)" - pág 39

"(...) Enquanto eu fazia esse prece muda, passeava meus olhos cheios de lágrimas pelas plantinhas que cobriam a superfície do túmulo. Uma roseirinha pequenina prendeu de repente minha atenção (...)" - pág 41

A literatura hoje, as vezes carece de proximidade e aconchego. E o que podemos notar neste livro é exatamente isso, um carinho imenso e amor transbordando de coração à coração por meio desta sensível família.

-Não Quero Mais Esse Negócio De Você Longe De Mim - Crônica (pág 115 à 117)

"(...) André continuou choramingando. Pouco depois, uma velhinha passou. Vendo seus olhinhos assustados, ela perguntou:

-Como é seu nome? Onde você mora?

André lembrou-se de repente que sabia o nome de seus pais e o da sua rua. Sabia até o telefone!
E foi assim que a vovozinha pôde levá-lo para a casa.(...)"

Legal ressaltar também, que ao final de algumas crônicas e textos, havia o comentário de alguma pessoa importante da vida da autora. Inclusive, a apresentação do livro e o prefácio. Contudo, deixarei um quotes de ambos aqui também:

Apresentação por M. Cristina Kupfer (pág 9 à 12)

"M. Stella gostava de escrever. Mas dizia que, no decorrer de sua vida, escreveu menos do que desejou. (...) No fim da vida, disse-lhe diversas vezes que queria reunir seus contos em um livro. Fora do circuito comercial (...) ser editado para dar à nós, simplesmente, a oportunidade de ler o que havia escrito. (...)
O Sentido dos seus escritos não está em sua inserção na produção literária contemporânea, não está nos desafios estilísticos que ela não propôs. Está só no fato de que não podia deixar de escrever, e que escreveu para nós. (...)"

Prefácio por Bianca Machado (pág 13 à 15)

"(...) a séria, racional, a estóica Maria Stella, era, na verdade. 'pessoa maluca, amalucada, adoidada. (...) no caso de escrever, tanto é inútil confiar quanto desconfiar: a escrita fia-se a si mesma, inelutavelmente, há de nos trair. (...)"


Foto no Instagram: @safiraferreira_


Espero que tenham gostado! E que encontrem este pedacinho de amor bege, em algum lugar por ai <3

Bjs: #SafiSaga




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