Chá De Letras #32

"A Lista" - Jennifer Tremblay

Oie,
Bem, agora que faz uns dias que terminei essa leitura, creio que posso falar sobre ela, sem - desculpe o termo - enfiar a guela abaixo de vocês que é algo extremamente único e de bom agrado à alma. Já respirei, logo consigo dar continuidade sem me alvoroçar tanto rs

Primeiramente: é um livro de teatro, ou seja, a forma textual é bem distinta de uma narrativa que talvez a maioria - e eu me incluo nisso - esteja acostumada à ler. É um monólogo, belo, simples e polido.
Este livro me encanou à primeira vista, já pela capa e frases soltas que pude ler de canto à princípio, sem adentrar tanto na história. Porém confesso que não concluí que pudesse me afetar tanto! E falo isso de forma boa, pois além de inspirador, é sincero, e me trouxe um novo olhar; ou melhor; aguçou e descobriu um olhar que eu tinha e não sabia. - Tanto que me surpreendi por conseguir compreender facilmente a leitura, além de me identificar com ela.
Entender também a personagem. E que personagem.

Escrito por Jennifer Tremblay, nascida em 1973 no Canadá, dona de belos títulos e prêmios - inclusive ganhou dois prêmios por essa obra, sendo eles: "Governor General's Literaly Award" para o teatro e "Prix Michael-Tremblay" de melhor peça em 2010.

Obra é, como já mencionei, um monólogo. Logo, em alguns dos capítulos, te é dada a posição dos personagens e cenário. A escrita é por colunas, pequenas frases amontoadas, como num poema vivo. As falas, sem aspas, ou algum sinal para referência; algo que achei belíssimo, visto que a narradora ao início, se retrata como todos os personagens.
Tem falas gentis, que lhe fazem apreciar detalhes minuciosos do cotidiano; além de que as repetições de algumas palavras ou frases, acolhem o objetivo que traz um olhar cansado do automático, infeliz com a vida e vezes não, arrependimento sincero e podem causar também o amargo no estômago ao sentir realmente a frieza, doçura e verdade em sílabas juntadas propositalmente, de forma direta.

Temos de início a mãe. Exausta e triste por não exercer nem viver como gostaria, mas por assim estar vivendo como antes pensara, e isso lhe deixar de certo com maior amor aos filhos e descontente com seu casamento. Pois como mencionado, se gosta de ter filhos pois é fácil amá-los, e eles deixam as coisas simples por sua facilidade de amar também.
A mãe se culpa, por achar que poderia polpar a morte da vizinha Caroline. Ressaltando boas lembranças, cenas rotineiras, até o momento em que a saúde de sua amiga não ia bem.

Chega a ser calmo decifrar quando fala de si e seus filhos e quando menciona a visão de Caroline. Eu mesma de início, pensei que se trava de uma filha falecida, nas 5 primeiras páginas rs 
Mas digo que a graça do livro também está na capa dura, que persiste intacta mantendo a imagem de pinceladas em tons pastéis. O papel Pólen Bold, que causa felicitação aos ouvidos à cada virada de página, e principalmente... As letras impressas em azul-marinho, encanto aos olhos, uma graça. (até agora me questiono se é azul-marinho mesmo ou preto, e apenas eu o enxerguei assim por estar tão admirada!)

Em suma, uma leitura linda. Aquelas em que ao terminar, fechamos o livro e aplaudimos com "bravo!". Adoraria voltar ao sentimento e reflexão que tive após terminar a leitura, em breve pretendo senti-lo outra vez.


***

Alguns quotes que escolhi de olhos fechados, visto a vasta opção em todo o livro:

"(...)
 Porque cozinhei as maçãs.
 O que significa essa palavra.
 Maçã.
 Queria ser um camelo.
 Livre no deserto do Saara.
 Quero ser uma árvore.
 Imóvel nos Campos Elíseos.
 Quero ser uma prostituta em Amsterdâ.
 Majestosa em seu salto alto


 Julien grita,


 Philippe chora,


 Raphael cai.


 Fecho os olhos.
 Acho que não sou a mãe deles.
 Eles não são meus filhos.
 Não quero mais saber deles.
 Não quero mais saber de mim.
 Respire.
 (...)" - pág 20


"(...)
 O que você gosta Caroline no fato de ter filhos?


 Ela responde.
 Sem hesitação.
 Gosto da facilidade de se amar os filhos.
 Saímos do carro,
 Gosto da facilidade de se amar os filhos.
 Entramos no cinema.
 Gosto da facilidade de se amar os filhos.


 Gosto da facilidade de se amar os filhos,
 Inclusive agora.
 Meses depois.
 Não sei onde colocá-las
 As vírgulas.
 O acento agudo.
 (...)" - pág 39


"(...) Por exemplo, na lista que fiz ontem escrevi 'Ligas para o dentista'. Ontem achei que era importantíssimo ir ao dentista. Ontem meus dentes estavam amarelos demais. Hoje de manhã achei que estavam brancos. Brancos o suficiente para não ir ao dentista. Veja só, a lista é afetada dependendo do humor. (...)" - pág 56


"(...)
 Um alista nova em folha numa caderneta feita para listas.
 Encontrar o número da médica.


 Cabeleireiro.
 Embrulhar presentes.
 Luzes de Natal.


 Consertar a cadeira.
 Separar os jogos.
 Carregar as baterias.


 Os insetos se aglutinaram no peitoral das janelas.
 É muito pior no inverno.
 Parece que vivemos na casa deles.
 O vento de inverno.
 (...)" - pág 60


"(...)
 No velório.
 Eles sobem no caixão.
 Lhe dão beijinhos.
 Lhe fazem cócegas.
 Lhe contam segredos.
 Há desenhos.
 Sol, flores, eu te amo.

 (...)
  O marido cai sobre Caroline.
 Ele fala com ela.
 Tem muito a dizer.
 O que ele está contando,
 Isso precisa acabar.
 Tem que dizer adeus à mamãe.
 Adeus mamãe.
 Mãos pequeninas dão adeus.
 Nunca mais a veremos.
 Espere papai.
 Mais um beijo.
 Eu também diz Cassandra.
 Eu também diz Antoine.
 Eu também diz Fanny.
 (...)" - pág 70/71


"(...)
 Na minha lista de tarefas urgentes,
 Escrevo no alto da página.
 Trazer Caroline de volta.

(A mulher sai da cozinha, deixando a porta aberta)" - pág 78


***

Espero que tenham gostado e que venham à ler esta obra!
Bjs: #SafiSaga

Postagens mais visitadas