Chá De Letras #46

"Poemas Do Brasil" - Elizabeth Bishop


Oi oi, gente! Tudo bem?

Segundo livrinho de poemas que vem pro blog em 2021 :) Confesso que há 2 anos que eu queria conhecer a escrita de Bishop, devido à um evento que participei em 2019 (saudades inclusive), representando a Helvetia Éditions (editora em que sou autora, e representava nos eventos de São Paulo, pois é uma editora suiço-brasileira e o único local representante no Brasil, fica no Rio De Janeiro), no dia de revelarem o autor homenageado da FLIP - e que também fora o encontro de espaços parceiros dessa Feira Literária ícone.

Naquele ano, foi revelado que seria Elizabeth Bishop, entretanto, algum tempo depois foi cancelada a homenagem, devido aos conflitos gerados por ela ser americana e não brasileira. Porém, como estou no nicho e ainda não havia lido nada dela até então, resolvi checar por mim mesma e experimentar ler um pouco de suas obras :) Então vamos à resenha!


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"Poemas do Brasil" é um livro bilíngue de poemas sobre o olhar de Bichop à respeito do Brasil, desde nuances pessoais, até causos e cultura, etc. Inicialmente é dividido em 5 partes, sendo elas: 'Descoberta', 'Paixão', Distanciamento', 'Rejeição' e 'Perda'. E antes de imergir nessa antologia poética, nos é dada uma grande história sobre a trajetória da poeta no e com o país, e também uma nota introdutória aos poemas, feita pelo curador e tradutor da antologia, Paulo Henriques; em que se explica a separação, e escolhas.

Creio ser muito única a experiência com cada poema, assim como costumo dizer, cada um nos revela algo. Num todo eu havia começado a ler esperando palavras que revelassem meu interior e fossem mais pessoais; entretanto, estava enganada. À princípio demorei um pouco para me acostumar com a ideia de algo mais amplo, como uma visão de impacto assistida ao invés de vivida; claramente que de acordo com o eu lírico, que muitas vezes estava ligado mais ao olhar do narrador determinado e não da poeta em si; e então me deparei com histórias em forma de poema.

Os poemas não diziam sobre Bishop diretamente, mas através de metáforas, histórias hipotéticas, até com caráter fantasioso ou cultural, podemos conhecer muito de sua visão. Parecia que Elizabeth era amiga das palavras, e a relação de seu imaginário e olhar, com elas, resultavam em histórias por estrofes.


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Um espaço especial também para falar sobre o trabalho do tradutor e curador da obra, excelente! Imagino o quanto seja difícil traduzir poemas, encontrar palavras que traduzidas sejam as mesmas, e que rimem ao mesmo tempo; e foi uma ótima experiência poder ter o material original, e o traduzido também :) Alguns poemas pude acabar gostando mais em inglês, mas tive uma melhor imersão com alguns traduzidos.

Se quiser ler pelos poemas, vale a experiência! Para conhecer o trabalho e um imaginário poético. Ps: hoje ela é criticada por seu posicionamento político e falas 'colonizadoras' na década de 50. deixo claro que eu li pelos poemas, não sei sobre ela quanto cidadã, e repudio qualquer discurso de ódio/opressor.

Agora, fiquem com alguns dos poemas - ou estrofe deles - que mais chamaram minha atenção:


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Q U O T E S :


"(...) O rio respira sal,

inspira e depois expira,

e lá no fundo encantado

tudo é macio e doce.


Quando a lua brilha branca

e o rio faz aquele som

de chama de figão a gás -

aquele chiado que lembra

cem pessoas cochichando -

eu hei de estar lá no fundo,

o chacoalho chacoalhando,

o coral dando sinal,

coando feito o desejo,

meu manto de peixe mágico

esvoaçando atrás de mim, (...)" - pág 87


"(...) Casa, casa aberta

para o orvalho branco

e a alvorada cor

de leite, doce à vista;

para o convívio franco

com lesma. traça,

camundongo

e mariposas grandes;

com uma parede para o mapa

ignorante do bolor;


escurecida e manchada 

pelo toque cálido

e morno do hálito

maculada queria,

alegra-te! Que em outra era

tudo será diferente. (...)" - pág 97


"(...) fracos lampejos interrogativos,

diretor como o latir do cachorro.

Mas para as crianças, naquele abrigo

solúvel, indesculpável, no morro,

a resposta da chuva é tão vazia

quanto uma vaga ecolalia, (...) - pág 107


"(...) Esta noite a lua contempla

a avenida Copacabana

em vez de olhar para o mar,

e as coisas mais cotidianas {...}


A padaria

está imersa na meia luz - 

estamos racionando energia.


Os bolos, de olhar esgazeado,

parece, que vão desmaiar.

As tortas, gosmentas, vermelhas, 

doem. O que devo comprar?


Misturam milho à farinha

e as bisnagas ficam doentias -

pacientes de febre amarela

amontoados na enfermaria.


O padeiro, doente, sugere

"pães de leite" em vez de bolo.

Eu compro, e é como levar 

um bebezinho de colo. (...)" - pág 149/151


"(...) Mas a minha ilha, coitada,

ainda não foi redescoberta nem rebatizada.

Todos os livros erram quando falam nela. {...}


Minha ilha era uma espécie

de lixo de nuvens. Todas as nuvens usadas

do hemisfério iam para lá, e pairavam

sobre as crateras ´suas gargantas sedentas

estavam sempre quentes.

Seria por isso que chovia tanto? {...}


O sol se punha no mar; o mesmo sol singular nascia no mar,

e o sol era um só, e eu também era só um. (...)"


"(...) A Arte de perder não é nenhum mistério;

tantas coisas contém em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério. (...)" - pág 185


~*~


Instagram: @safiraferreira_



Espero que deem uma chance para conhecer o trabalho de Bishop!

Bjs: #SafiSaga

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