Chá de Letras #61

"Histórias de Ir e Voltar" (Vol 1 e 2, Poemas e Contos) - Lisa Schroder


Oi oi, gente! Tudo bem?

Resenha do recebido mais fofo do ano! Box lindo de uma duologia, cedido pela Editora Coralina <3 

"Histórias de Ir e Voltar", traz - como diz o subtítulo: Metáforas e Ressignificação. O box tem dois volumes um recheado de poemas e o outro com contos - que tem certo tom de fábulas.

Por se tratar de diversas obras em um só livro, gostaria de enfatizar que a escrita de Lisa é única e autêntica. Após esse livro, acredito que conseguirei identificar quando um texto é dela antes de ter essa informação em mente.

Os poemas são muito sonoros, não que possuam tantas onomatopeias, mas tem um ritmo e traz repetições de palavras em intervalos certeiros, é como se pudêssemos ler com os ouvidos! Neles descobrimos a voz de objetos e texturas, a vida ali acontece em todos os presentes. É algo que admiro e gosto muito ao ler poemas, sentí-los como também um som, e ouvir o eu lírico trocado de lugar, se fazendo real em objetos como linha ou em lugares como lago.

E a identidade de seus personagens permanece nos contos, mas dessa
vez não como eu lírico, mas de fato com diálogos e formas existentes que interagem. Um conto que gostei bastante e me recebeu com muito amor, foi o "Tal e Qual", que conta a história de 3 garotos que diziam ser chamados por nomes distintos: o Aquele, o Aquilo e o Outro (Aqueloutro); a professora muito observadora, notou que eles possuiam formas distintas de resolver os problemas, além de um tanto curiosas e eficazes, não apenas isso, como também diziam pertencer à uma família que compunha-se de um macaco e um gafanhoto, além de conversarem com grãos. Nessa empreitada, muitos tentam descobrir o paradeiro dos garotos, que dizem a verdade.  Tantos duvidam, ficam sem entender, mas nos mostra a fragilidade do pensamento humano, quando buscamos uma verdade que não se responsabiliza pelo o que de fato é, mas vive em nossa mente. Gostei muito do conto do vento que gostaria de ser amigo da maré, que ouviu de longe uma conversa entre ela e o barquinho impermeável ~ característica importantíssima ~, qual contou a história de seu antigo dono pescador, que resolveu se aventurar com um peixinho. Cada parágrafo é uma surpresa, mas nenhum detalhe está ali por acaso, e eles fazem um sentido tão grande após ler, que torna não apenas satisfatória a leitura, como também nos convida a apreciar novas formas de nos trazer consciência.

Essa leitura é um afago em nossa criança interior e ao mesmo tempo uma pancada em nosso eu adulto. É como se ali, o imaginário ganhasse voz e nos trouxesse lucidez em suas sucintas percepções e questionamentos. Tive um sentimento parecido ao de quando uma criança nos indaga algo rotineiro que, de certo, nos faz refletir sobre questões profundas ao analisar situações e a nós mesmos. Lisa assume este lugar em fábulas, tão lúdicas que nos perdemos encantados - e também podemos descer na estação errada se estivermos de metrô -, mas que de alguma maneira tem um encaixe que nos busca de volta e elucida a razão que sempre esteve ali, escondida pela narrativa fantástica. É uma experiência e tanto!

Recomendo aos que buscam essa volta ao ser antigo, e procuram algo diferente que acrescente ao novo ser - ps: deve ser por isso o nome do livro rs.

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Q U O T E S :

"(...) Sinto o mar dentro de mim, um mar impossível que vai e vem, um mar transversal, um mar que não aquieta, um mar que atinge o areal. (...)"


"(...) E, enquanto isso, a linha ia adquirindo cores ao longo de si.

Um dia, passou em frente a um espelho, olhou-se!

Descobriu que estava tão crescida que já nem lá cabia. (...)"


"(...) Questionou-se sobre o que queria ser e sobre o que se deixava ser! (...)"


"(...) A andorinha disse que a única bagagem permitida seria a alma! (...)"


"(...) mar

muito mar,

percorre-me

prolonga-me

aconteço (...)"


"(...) será um Lugar onde apenas nada acontece?

Antes de nada acontecer, sim ou não, já aconteceu já esperneei já chorei já gritei já perguntei!

Agora hiberno, em mim em quietude (...)"


"(...) na superfície do lago ainda incolor

a aguardar que se espelhem o sol e a lua (...)"


"(...) no lago em que me tornei.

Talvez

eu evapore, não tenha mais corpo, não serei mais eu. (...)"


"(...) Oh, Luz que surges

na minha aguarela na minha neblina e brilhas no meu horizonte. (...)"


"(...) Por que é que ele não olha para nós com olhos de ver? (...)"


"(...) as consequências poderão ser essas devido aos desarranjos causados pela falta de harmonia interna. O menor desequilíbrio pode causar uma perturbação amplificada. (...)"


"(...) Se é boa ou não, tudo depende do que as pessoas decidem fazer com a dúvida. (...)"


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