Chá de Letras #65
"A Varanda de Frangipani" - Mia Couto
Oi oi, gente! Tudo bem?
Segundo título do Mia que leio ~ meu namo emprestou <3
Confesso que, tive dificuldade para entender um pouco esse livro no começo, digo, de certo entendi, mas não sabia se o estava entendendo certo rs no caso, compreendendo. Quando li "Terra Sonâmbula" me senti atingida mais rápido e acredito que comecei esse esperando essa mesma sensação. Não a tive, mas fui igualmente surpreendida ao decorrer da leitura.
---
Acompanhamos Ermelindo Mucanga, em forma de espírito (premissa meio Memórias Póstumas, né?), ele era um carpinteiro enterrado embaixo de um pé de Frangipani (árvore), que se encontrava na varanda de um antigo casarão, onde funcionava um asilo.
A História de passa 20 anos após a independência de Moçambique, em 1992. Que anteriormente era uma colônia portuguesa, logo, ainda estavam em cacos e a busca de recuperarem sua identidade nacional.
Após todo esse tempo amargurando o fato de não ter sido enterrado de forma digna, o governo decide desenterrá-lo, por ser agora dito como herói. Encabulado com essa situação toda e sem querer floreios, Mucanga recebe a visita de um pangolim - tipo de capivara existente na África -, que o aconselha à entrar no corpo de um ser humano vivente e assim "remorrer" e ter seu merecido descanso.
Ermelindo possui o corpo de um policial, Izidine, um oficial que fora até o asilo investigar a morte do diretor, Vasto Excelêncio. Daqui, a narrativa explora os depoimentos dos idosos que ali vivem, suas lendas, crenças e segredos. Os personagens tem cada um seu traço autêntico, e em especial as mulheres possuem uma carga além em suas histórias, que não escondem o peso. Como a feiticeira Nãozinha, a enfermeira Marta e a esposa de Vasto (que deixa seu depoimento em uma carta linda e forte).
A trama te consome aos poucos, pode te deixar em profundo
questionamento enquanto decifra os acontecimentos de maneira racional. Em contrapartida, somos levados à um diálogo intimista com o povo de moçambique, tamanha destreza, genialidade e cuidado que Mia tem ao contar sobre sua terra. Pois além dos personagens intrínsecos, ele intercala a narrativa entre o presente de Izidine, com a alma de Mucanga vendo tudo de fora e dentro.
A escrita também é cheia de 'neologismos', como o termo: "remorrer", e uma característica que eu acho linda em narrativas cronistas, que consiste em atribuir adjetivos físicos à objetos e sentires inanimados! Aqui ele o faz com maestria.
É uma leitura de fortes silencios, ler esse autor é além do ler, é revisitar espaços esquecidos ou que não sabíamos.
---
Q U O T E S :
"Nós mulheres, estamos semore sob a sombra da lâmina; impedidas de viver enquanto novas; acusadas de não morrer quando já velhas"
"- Você não é bom nem mau. Você simplesmente inexiste.
- Como inexisto?"
"Ali se descoloriam os tempos, tudo engomado a silêncios e ausências"
"A água não tem passado. Para o rio tudo é hoje.
"Dizem que as mulheres que vêem seus filhos morrer ficam cegas. Hoje eu entendo: não é que elas deixam de ver as coisas. Deixam sim, de ver o tempo. Tornado invisível, o passado deixa de doer."
"- Estes velhos não são apenas pessoas.
- São o quê, então?
- São guardiões de um mundo. É todo esse mundo que estpa sendo morto."
"Não tenho força para odiar"
---
Instagram: