Chá de Letras #78
"Café Tangerinn" - Emanuela Anechoum
Oi oi, gente! Tudo bem?
Lindo livro que ganhei da Editora Globo, pelo selo Biblioteca Azul - e simplesmente quis marcar todas as páginas dele.
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Esse livro me assustou, tanto em sua riqueza de detalhes quanto em não ter ninguém certo de si.
A narrativa traz Mina, uma garota que parece escrever para e sobre o pai ~ em partes intercaladas que o livro mesmo divide. Conhecemos sua realidade quanto imigrante num país europeu, vivendo com uma garota rica que ama podcasts empoderados, mas tem um entendimento raso e midiático das questões. A relação delas é enigmática, pois ao mesmo tempo que podem se gostar, também temem e negam uma a outra, como se aceitassem viver ao lado uma da outra principalmente quando podem fazer algo que prejudique.
Em paralelo temos capítulos de como fora a vida do pai de Mina na juventude, ali notamos o que os dois tem em comum, onde nasceram as dores do pai e como ele construiu aquele Café que tanto marcara sua trajetória em vida. Há também o momento em que Mina retorna a seu país, devido a morte do pai, ali se depara com costumes muçulmanos e precisa lidar com os desgastes de sua família, além de correntes do seu passado e novos valores. Há outra ligação enigmática, com sua irmã, uma mistura de orgulho e apreensão, carinho e repúdio. Assim também com sua mãe, mas no caso sem compreende-la.
Nessa estadia Mina conhece um rapaz estrangeiro viajante, que por ter princípios parecidos com os dela, ambos se dão um adeus antes de tudo, mas ainda assim vivem.
É cru. Tudo é cru, o ponto de vista, os diálogos. Tão próximos dos habituais que assustam, pois as palavras carregam verdades transparentes, críticas, o mal dentro de nós ou o mal que somos para o outro. É um misto de sentires, um misto de compreensão. É um doar, uma briga de ego, um gatilho emocional.. Enfim, muito válida a leitura, de um aprendizado e noção.
O livro emociona desde a primeira página. Os parágrafos traduzem sentimentos não ditos, que bonito isso. Gostei da vida que as palavras ganham aqui, das vidas narradas.
Só não favoritei porque acredito que há momentos para esse tipo de leitura. Eu estava num ápice diferente em minha vida quando li, podia ter apreciado mais, gosto de me doar um pouco além para este tipo de livro e não consegui fazer muito bem desta vez. Não sei se algum dia eu leria novamente, pois assim como filmes existem livros para se ler uma vez só ~ para mim ~ e esse seria um deles.
~*~
Q U O T E S:
"(...) Ela muda você — aquela sensação de estar quase morrendo sem morrer."
"(...) Partir é como morrer no coração de quem você deixa para trás."
"(...) Não era só isso — uma mulher não é apenas uma mãe.
Ninguém é apenas uma coisa."
"(...) A solidão é uma forma de ausência e, no meu caso, era eu quem se ausentava: sentia esse vazio no centro do meu corpo e agarrava, agarrava de forma violenta as coisas para me preencher. Começava a me lembrar de quem eu era antes de ir embora e descobria dolorosamente que não havia nada de especial em minha dor (...)"
"(...) Os membros de uma minoria não têm o luxo de serem eles mesmos: quando confrontados com o poder, incorporam sua diversidade. Conter multidões é um pri-vilégio, ser inconsistente é um privilégio, ser único e irrepetível é um privilégio. E, ao mesmo tempo, pertencer é um privilégio."
"As pessoas existem se ninguém as vê?"
"(...) Pessoas sobrevivendo, concluiu ela, como se quisesse fazer as pazes com a realidade."
"(...) Não é justo, eu disse entre soluços, não é justo. Eu não
quero ser forte.
Ser frágil me parecia um privilégio que só Berta tinha."
"(...) Não me despedi de ninguém, a não ser de quem eu havia sido, uma sombra promissora em uma metrópole maquiada."
~*~
Bjs: #SafiSaga